Descoberta e Descrição
Inicialmente o sítio de Dan foi escavado por Abraham Biran desde a década de 1960 e foi levado mais adiante a partir de 1974 numa expedição arqueológica liderado pelo Colégio União Judaico. O primeiro fragmento “A” foi descoberto no mês de julho de 1993, e o segundo e terceiro fragmentos, o “B1” E “B2”, que encaixavam no primeiro fragmento foram encontrados no ano seguinte. A estela de basalto estava escrita em Aramaico e data do século IX a.C. a inscrição fragmentada comemora a vitória de um rei arameu sobre seus dois vizinhos do sul: o “rei de Israel” e o “rei da casa de Davi”. No texto o rei arameu se orgulha que ele, sob a orientação divina do deus Hadade, venceu milhares de cavaleiros israelitas antes de despachar pessoalmente seus dois adversários.
A expressão que provavelmente que mais chama a atenção é a nona linha onde se lê (BYT DWD, Beth David, “Casa de Davi”). Esse achado tem provocado uma fúria de minimalistas ou revisionistas. Esse termo dado a essa escola de interpretação é utilizada exatamente, porque minimizam a história bíblica como fonte histórica, essa escola ensina que as histórias na bíblia são meramente ficção ideológica dos escritores, e só pode ser considerado fonte histórica se houver evidência arqueológica. É por isso que essa descoberta é mais precisamente o tipo de evidência direcionado a esses estudiosos. Mas mesmo com o resultado das escavações no Oriente Médio essa escola tem vindo como uma desconstrução no âmbito de estudos bíblicos modernos, essa desconstrução como já falei em artigos anteriores não é nova, ela remonta aos dias do estudioso bíblico mais importante do século XIX Julius Wellhausen.
A desconstrução do minimalismo bíblico já tem sido visto em muitos achados arqueológicos, por exemplo a Estela de Merneptá onde eles evitam mencionar Israel em campanhas egípcias para dar base que os israelitas eram etnicamente cananeus. Outro exemplo é o Túnel de Siloé onde Philip R. Davies retrogrediu a datação do século 8 a.C. para o período Asmoneu (século 2 a.C.) ao mesmo tempo Davies recebeu uma enxurrada de respostas de epigrafistas, a Professora Jo Hackett uma das minhas preferida na Idade do Ferro, Peter Kyle McCarter e Frank More Cross que não concordaram com sua posição. Deve ser dito que a finalidade desse artigo não é a discussão filológica da Inscrição ou sua datação, mas especificamente as propostas dos revisionistas.
A transcrição abaixo foi feita do Aramaico para o Hebraico e depois para o Português.
1. [] א] מר.ע [] וגזר]
2. [] אבי.יסק [.עלוה.בה] תלחמה.בא —]
3. וישכב.אבי.יהך.אל [.אבהו] ה.ויעל. מלכי [יש]
4. ראל.קדם.בארק.אבי [.ו] המלך.הדד [.] א [יתי]
5. אנה.ויהך.הדד.קדמי [.ו] אפק.מן.שבע [ת — ]
6. י.מלכי.ואקתל.מל [כן.שב] ען.אסרי.א [לפי.ר]
7. כב.ואלפי.פרש. [קתלת.אית.יהו] רם.בר [אחאב.]
8. מלך .ישראל.וקתל [ת.אית.אחז] יהו.בר [יהורם.מל]
9. ך.ביתדוד.ואשם. [אית.קרית.הם.חרבת.ואהפך.א]
10. ית.ארק.הם.ל [ ישמן]
11. אחרן.ולה [… ויהוא.מ]
12. לך.על.יש [ראל … ואשם.]
13. מצר.ע [ל.1. [] … […] e cortou […]
2. […] meu pai subiu [contra ele quando lutou em […]
3. e meu pai estava deitado Para baixo, ele foi ao seu [antepassados (ouviu-se e morreu)]. E o rei de I [s-]
4. rael entrou anteriormente na terra do meu pai, [e] Hadade me fez rei,
5. E Hadade foi à minha frente, [e] eu parti da sete […- ]
6. s do meu reino, e eu matei [setecentos] parentes [gs], que aproveitaram os [7]
distúrbios e milhares de cavaleiros (ou: cavalos). [Eu matei
Jeová filho de Ajá ] 8. Rei de Israel, e [eu] matei [Ahaz] iahu, filho de [Jeoram kin-]
9. g da casa de Davi, e coloquei [suas cidades em ruínas e virou]
10. sua terra em [desolação]
11. outros [… e Jehuru-j
12. liderado é [rael e eu estabeleci]
13. cerco emOs três fragmentos da Estela
A expressão ”Casa de Davi” tem sido um objeto de debates entre epigrafistas e estudiosos bíblicos principalmente da ala minimalista da Universidade de Copenhague e Sheffield. Esses nomes merecem ser mencionados aqui como Niels Peter Lemche, Thomas L. Thompson e Philip R. Davies. Do final do século XX ao XXI, o debate intensificou-se dentre do qual cerca de 11 estudiosos foram a favor da escola minimalista dentro os quais, todos são biblicistas e não epigrafistas. Cerca de 28 estudiosos lhe confirmaram a Inscrição aramaica de dentro do círculos de epigrafistas treinados.
Justificativa contra a leitura Casa de Davi BYT DWD
O principal argumento dos minimalistas em torno da expressão BYT DWD é que a inscrição esta ausente de divisor de palavras, ou pequenos pontos inseridos entre as palavras. Essa argumentação é baseada principalmente na onomástica da Síria e Mesopotâmia composto por nomes como Bit Adini e Bit Humriya[1] que aparecem pontos inseridos entres as palavras.[2]
A segunda argumentação se baseia que a expressão BYT DWD é um topônimo ou seja uma localização geográfica. Segundo os minimalistas se refere a Betel que nesse caso Thompson traduz byt dwd como (Templo da deidade DWD), essa sugestão ele encontrou apoio na Estela de Mesa ( dwdh).[3]
A terceira argumentação de Lemche e Thompson era que dwd se referisse a Casa do Tio que poderia ser usado como um epíteto divino para designar uma divindade.[4]
Respostas maximalistas
Um dos principais Semiticistas a defender a leitura Casa de Davi sem dúvida foi Anson Rainey que analisou a formula BL’M. BRB’R, ‘Baalam, filho de Beor’, de Deir ‘Alla, que tem um divisor de palavras entre BL’M e BRB’R, mas não entre BR e B’R. Outro exemplo é o nome pessoal BRRKB, ‘Bir-Rakib’, de Zincirli, que não possui uma marca divisória entre BR, ‘filho’ e RKB, ‘Rakib.[5] A observação de Rainey é que vocábulo aramaico da inscrição de Zincirli e da Inscrição de Deir Alla é marcado pela função sintática exercida pela Patronímico, isto é dentro do campo da onomástica o (nome do pai), do qual BR (filho de) e B,R (Beor) é relacionado com outros termos na Oração. É por essa razão que não se encontra com divisor.
Alan Millard argumentou contra a proposta de Thompson de que byt dwd seria um topônimo e que a verdadeira tradução seria Casa de Betel. Ele observou que os antigos escribas não eram consistentes na ortografia de palavras ou no uso de divisórias de palavras.[6] Ainda segundo Freedman nenhuma localização geográfica é atestada com o nome byt dwd.[7]
O egiptólogo líder Kenneth Kitchen contrapondo a sugestão de que se referia a uma deidade local, afirmou ”Não há nenhuma base para suposta existência de uma divindade chamada dwd. Não há documentação para um nome divino, ele observa. Nenhum antigo rei veio a nossa conhecimento cujo nome contém um componente dwd. Nenhuma lista sacrificial para dwd, nem rituais-dwd, nem estátuas-dwd, nem altares-dwd ou qualquer objecto cúltico-dwd. A ideia de uma deidade-dwd é, francamente, “uma invenção moderna por estudiosos engenhosos da século passado”. Do mesmo modo Walter Dietrich afirmou ”[8] Na minha opinião, a teoria de que bytdwd poderia se referir a um templo, Bet-Dod, perdeu seu valor”.[9] .
Consenso acadêmico da Inscrição de Tel Dan
Sim, Davi existiu, Sim Davi não é um personagem bíblico inventado mais tarde pelos escribas judeus no exílio babilônio como outrora reivindicada a erudição do Antigo Tesamento. Em relação ao pequeno número de estudiosos contra a leitura bytdwd, um número bem maior de estudiosos que debruçaram sobre a Inscrição de Tel Dan é classificada aqui de acordo com o seu campo especializado.
Eruditos do AT/ ANE | Assiriologistas/Arqueólogos | Egiptologistas | Epigrafistas/Semiticistas |
Walter Dietrich | Avraham Biran | Kenneth A. Kitchen | Alan Millard |
Gary A. Rendsburg | Hershel Shanks | James K. Hoffmeier | Victor Sasson |
Jeffrey C. Geoghegan | Nadav Na’aman | Anson Rainey | |
Gary N. Knoppers | David Noel Freedman | ||
Ingo Kottsieper | William Schniedewind | ||
Paul Eugene Dion, Jan-Wil Wesselius, Hans-Peter Müller, Bob Becking Carl S. Ehrlich, Kallai Zecharia, Kurt L. Noll, Émile Puech | André Lemaire, Joseph Naveh, Aaron Demsky, Francis I. Andersen, S. Ahituv |
Rejeição para a Universidade de Copenhague e Sheffield
Os minimalistas sustentam que o Rei Davi narrado na Bíblia não passa de uma mera figura epônima semelhante ao Rei Arthur dos contos britânicos. Vou sumarizar alguns dados que levem a desaprovação de Copenhague e Sheffield na Interpretação de Tel Dan.
- Todos os minimalistas são estudiosos do Antigo Testamento e não são treinados na Arqueologia do Antigo Oriente Próximo. Por exemplo Anson Rainey afirmou ”Thompson, Davies, Lemche e Whitelam nunca escavaram um sítio israelita ou qualquer outro sítio arqueológico e não têm experiência em lidar com arquivos de textos antigos do Oriente Próximo, como os de Ebla, Mari, Nuzi, Amarna, e Ugarit”[10].
- As considerações hipotéticas em traduzir como Casa do Tio ou Betel ou ainda um possível topônimo são desafiadas por epigrafistas e egiptologistas.
- A proposta de falsificação na estela é uma agenda pós-moderna que circula os estudos do Antigo Testamento que procura desacreditar a história bíblica.
Concluo esse artigo com a citação de Gary A. Rendsburg em referência aos minimalistas. ”Em suma, a academia criou um ambiente intelectual que permite aos não capacitados operar em igualdade de paridade com os treinados’‘. [11]
Por Jean Carlos
Notas bibliográficas
[1] Lemche, N. P. 1998b. The Israelites in History and Tradition (Louisville, KY; Westminster/ John Knox Press).
[2] Davies, P. R. 1994. “‘House of David’ Built on Sand: The Sins of the Biblical Maximizers.” Biblical Archaeology Review 20/4.
[3] Davies, P. R. 1994b ‘Bytdwd and Swkt Dwyd: A Comparison’, JSOT 64: 23-24.
[4] Thomas L. Thomspon, ‘’House of David’: Na Eponymic Referent to Yahweh as GodFather’’, SJOT 9 (1995): 59-74.
[5] Rainey, A. 1994 ‘The “House of David” and the House of the Deconstructionists’, BAR 20.6: 47.
[6] Millard, A. 1994 ‘Absence of Word Divider Proves Nothing’, BAR 20.6: 68-69.
[7] Freedman, D. N., and J. C. Geoghegan ‘“House of David” is There!’, BAR 21.2: 78-79.
[8] Kitchen, K. 1997 ‘A Possible Mention of David in the Late Tenth Century BCE, and Deity *Dod as Dead as the Dodo?’, JSOT 76: 29-44.
[9] Dietrich, W. 1997b ‘dawid, dod und bytdwd’, Veritas Hebraica: Alttestamentliche Studien 53: 17-32.
[10] Citado por Gary A. Rendsburg em http://jewish30yrs.mcgill.ca/rendsburg/#_edn17.
[11] Disponível em http://jewish30yrs.mcgill.ca/rendsburg/#_edn17. Para uma análise mais profunda do debate. The Tel Dan Inscription: A Reappraisal and New Interpretation (JSOTSup, 360; CIS, 12; Sheffield: Sheffield Academic Press)
Saudações, admiro seu trabalho. Poderia criar um artigo refutando este postal sobre o livro do arqueólogo ultraminimalista Israel Filkenstein?
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_B%C3%ADblia_n%C3%A3o_Tinha_Raz%C3%A3o
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Olá, colega. Pode deixar.
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